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60 ANOS

MUSA-UFPR  | 5 dez 2023 - 1 abr 2024

a   e x p o s i ç ã o

Durante quatro meses, de 05 dezembro de 2003 a 1º. de abril de 2024, trabalhei na sala do Museu de Arte da Universidade Federal do Paraná (MusA), em diferentes atividades. Em uma de suas facetas, a exposição refere-se aos meus 60 anos de vida, completados em dezembro de 2023, em vivências por três países do Cone Sul: Brasil, Argentina e Chile. A minha existência entrelaça-se com o período de 60 anos do golpe civil-empresarial-militar e a subsequente ditadura no Brasil. Um terço da minha vida esteve submetido ao regime ditatorial. Mas a exposição no museu, de fato, foi uma das muitas partes integrantes de um programa constituído por diferentes eventos e ativações, antes e durante a sua permanência física no museu. Assim, antecedendo a exposição, ministrei a disciplina “Estudos em poética 3 - Terra Incógnita: 60 anos”, direcionada a estudantes dos cursos de Artes Visuais da UFPR, na qual estiveram oito palestrantes que abordaram diferentes ângulos da temática abrangida pelo projeto e que, por terem suas apresentações gravadas em vídeo pelos projetos de extensão O Artista na UFPR e Arte em Vídeo na UFPR, podem ser conhecidos neste sítio eletrônico, na seção Diálogos Rizomáticos - Palestras e Entrevistas. Também programei três mesas-redondas que aconteceram durante o período de permanência da exposição, em 05 de dezembro de 2023, 29 de fevereiro e 1º. de abril de 2024, dentro da sala expositiva. As gravações em vídeo das três mesas-redondas também podem ser assistidas na seção Diálogos Rizomáticos - Mesas-redondas. Ainda durante o trabalho e diante do canto da sala de estar em que disponibilizei uma biblioteca temática ao público visitante, tive a ideia de convidar algumas pessoas para gravar conversas não roteirizadas, que estão abrigadas na seção Diálogos Públicos - Convidados. Na mesma seção, encontra-se o diário que escrevi a partir das conversas que tive com o público espontâneo, vindo de várias partes do Brasil, mas também do exterior, enquanto estive envolvida com o trabalho processual na exposição. A biblioteca temática que serviu à pesquisa do projeto, disponibilizada ao público visitante no museu, foi doada à Biblioteca da UFPR. Reputo os encontros e interlocuções realizados com diferentes pessoas como a parte mais importante de todo o projeto Terra Incógnita: 60 anos, “para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça”. “Nunca mais”. “Sem anistia”.

 

No processo desenvolvido na sala expositiva, usei barras de grafite macio (4B) e inscrevi os nomes dos mortos e desaparecidos dos três países citados nas paredes: 434 nomes, na parede preta que correspondia ao Brasil; 4.347 nomes de A a N e 4.382 nomes de O a Z, nas paredes brancas correspondentes à Argentina; 3.530 nomes, na parede vermelha, referente ao Chile. As cores das paredes relacionaram-se às minhas impressões sobre o caráter das ditaduras nos diferentes países: preta para o Brasil, porque associei o período da ditadura à figura cósmica de um buraco negro, por conta das ações, omissões, negligências, violências e destruição de documentos e informações sobre o período ditatorial; branca para a Argentina, porque o país foi um exemplo para o mundo de como enfrentou seu passado e pela constante tentativa de superação do trauma coletivo, ao imediatamente processar e punir os perpetradores dos crimes de lesa-humanidade e por investigar, sistemática e incessantemente, as atrocidades lá praticadas; vermelha para o Chile, porque a truculência da ditadura conduzida por um único governante, Augusto Pinochet, muito me impressionou por tudo o que ouvi, li e vi. 

 

Os nomes dos mortos e desaparecidos foram obtidos de listas oficiais dos três países, que continuam a ser atualizadas diante de novas pesquisas, processos judiciais e revelações: no caso do Brasil, do Relatório da Comissão Nacional da Verdade; no da Argentina, da Comisión Nacional sobre la Desapación de Personas (CONADEP); no do Chile, do Archivo Chile, pertencente ao Centro de Estudios Miguel Enríquez (CEME). Os nomes registrados nas paredes, a princípio legíveis, foram sendo cruzados e embaralhados durante a escrita e adensaram as faixas de, mais ou menos, 20 cm de largura, a uma altura de 1,30 m do chão, ao longo de todo o perímetro da sala expositiva. O adensamento causou áreas lineares de forte registro gráfico, como pode ser visto nas fotos desta seção. Após o trabalho das inscrições dos nomes em cada parede, afixei desenhos feitos em papel vegetal, obtidos a partir de fotografias de momentos vividos por mim, e frotagens com grafite sobre papel sulfite que obtive em cada um dos três países. Do ponto de vista poético, os desenhos indicavam uma dimensão alienada da vida, em primeiro plano, enquanto as faixas com os nomes inscritos nas paredes, velados em alguns pontos pelos desenhos, em segundo plano, representavam a luta da resistência à ditadura, como frequências estridentes que foram silenciadas, fluxos ou fluídos como rios subterrâneos assoreados e restringidos pelos respectivos terrorismos de estado, não percebidos por grande parte das sociedades de cada um dos países. Os cursos históricos das democracias de muitos países da América Latina foram brutalmente cortados pelas ditaduras e, na exposição, a linha perimetral, dada pelas faixas que continham os nomes dos mortos e desaparecidos, aludiu à inflexão. A sala também contou com uma mesa-vitrine-esquife de vidro, madeira e aço, preenchida com carvão, sobre a qual, paulatinamente, fui depositando três livros-objetos – caixas-arquivos de madeira identificadas com as letras iniciais de cada país em latão (A, B e C) –, recheados com carvão e que continham fichas com os respectivos e mais significativos nomes de centros clandestinos de triagem, tortura, estupro e assassinato político de cada país. Os nomes desses lugares foram acompanhados de suas respectivas coordenadas geográficas, indicando onde foram executadas, de forma exata ou aproximada, as ações de repressão e extermínio.

 

Nesta seção do sítio eletrônico estão arquivadas as imagens do processo de inscrição nas paredes e do preenchimento dos livros-objetos, mês a mês, e também constam os documentos que foram usados na obtenção dos nomes dos mortos e desaparecidos de cada um dos três países, as fichas contendo os nomes dos centros clandestinos ou de instituições ligadas à repressão, e ainda, no caso do Brasil, os nomes dos 377 indivíduos que atentaram contra os direitos humanos, desde o golpe de 1964 e durante o período ditatorial, denunciados no Relatório da Comissão Nacional da Verdade. Adicionalmente, também pode ser visto o material de divulgação dos eventos e das ativações da exposição física no MusA.

Acesse: 

https://www.instagram.com/terraincognita60anos/ http://www.musa.ufpr.br/links/exposicoes/2023/terra_incognita.html

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