RITA ISABEL VAZ
Só queria embalar meu filho..., desde 2018
Instalação
301 almofadas bordadas, amarradas umas às outras com fios vermelhos, sobre um tecido vermelho
230 x 1300 x 180 cm
Fotos: Rita Isabel Vaz.
“Tecendo Memórias e Ausências: a arte como resistência e sobrevivência”, foi uma pesquisa em poética, realizada em 2018, como trabalho de conclusão do curso Superior em Escultura da EMBAP – Universidade Estadual do Paraná – Campus I. Concomitante à pesquisa teórica construí a instalação: “... só queria embalar meu filho...” A arte pode ser uma rede, um lampejo, para sobrevivermos e construirmos resistência. No caso dos desaparecidos por ação da ditadura empresarial-militar, existe a ausência de um corpo a ser velado, como lembra Chico Buarque (1981) na música "Angélica": "... só queria embalar meu filho, que mora na escuridão do mar". Desde o golpe de 2016, vivíamos grandes retrocessos e restrições das liberdades, afloravam os discursos fascistas. Em 2018, o AI-5 completava 50 anos, neste contexto, relembrar os tempos sombrios, se fazia necessário. Assim iniciei a pesquisa teórica e concomitante a produção da Instalação, para a qual criei uma página no facebook: “Tecendo Memórias e Ausências”, convidando bordadeiras e bordadores para participarem do projeto. Àquelas e àqueles que responderam ao chamado, enviei tecido e biografia de cada um dos desaparecidos, conforme constavam no Relatório da Comissão Nacional da Verdade. Os bordados foram feitos por 89 bordadeiras e 6 bordadores de diversas regiões do Brasil. Ao inscrever seus nomes nestes bordados, de alguma forma, denunciam a maneira como foram arrebatados da vida. Os bordados pretendem expressar a diversidade e singularidade desses combatentes vencidos, comprometidos com a resistência. Para expressar estas diferenças, foram feitos por muitas mãos, num trabalho coletivo de pessoas que se sensibilizaram e contribuíram espontaneamente. Evidenciar essas ausências e marcar coletivamente uma espécie de velório/acalanto por meio do qual pretendi fazer lembrar os mortos, suas lutas, a maneira como construíram a resistência frente à ditadura empresarial-militar no Brasil foi o objetivo de meu trabalho. Entrelaçadas, a trama da memória de cada bordadeira e bordador, na urdidura das memórias dos homenageados, teceram a rede de resistência e sobrevivência a muitas mãos; cada uma delas singulares ao mesmo tempo que imbuídas do olhar colaborativo puderam, no mínimo, acalentar as mazelas deste tempo numa ação de resistência”.
- Rita Vaz -