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JÚLIO MANSO

Interna Mutilação, 2008

Objetos

Cera de abelha, parafina, objetos naturais e industrializados.

Fotos: Ziviani

“Esses objetos são referências a pedaços que nos são retirados. Fragmentos de uma vida levados a despeito de nosso desejo. Certa natureza, que nos diz que não podemos viver sós e que o vazio em breve deve ser ocupado. Neste caso, os animais de cera de abelha são recolhidos de um mundo distante, e muitos deles, longe de seus semelhantes. Normalmente, o preenchimento das peças é demorado, pois o que se revela leva um bom tempo para o seu reconhecimento. De modo que é também uma homenagem póstuma ao meu pai. A quem me ensinou a arte da temperatura da mão sobre a cera para uma boa modelação. Vejo nessas esculturas de materiais deslocados, o pedaço deixado pelo meu pai nos porões da ditadura: a tortura como mutilação. Só assim, posso imaginar o vazio que tomou conta de sua vida, depois de um infinito tempo de prisão política. Em 1975, no Paraná, é deflagrada pelo regime militar a operação Marumbi, uma caça sem precedentes em nossa história aos comunistas do partidão. Não era um pessoal que tinha um exército, nem homem-bomba. Eram pacifistas que desejavam a democracia no Brasil. Naquele ano uma centena de militantes e simpatizantes foi vitimada por ameaças, sequestros e prisões. Este trabalho me faz acreditar, que a campanha pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, de todos os presos e o retorno dos exilados, transformou nossa pátria. Nessa época, organizaram-se comitês de defesa de direitos humanos em várias cidades. A mobilização alcançou uma dimensão internacional. O sacrifício daqueles homens e mulheres ergueu os olhos das pessoas para o mundo, exigindo do regime repressor a reparação aos presos políticos. A força bruta não poderia mais estancar com sangue de seus filhos o direito à liberdade de seu povo”.

- Júlio Manso -

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