22/04/21
"Desigualdade não é uma contingência ou um acidente qualquer. Tampouco é uma decorrência "natural" e "imutável" de um processo que não nos diz respeito. Ao contrário, ela é consequência de nossas escolhas - sociais, educacionais, políticas, culturais e institucionais -, que têm resultado numa clara e recorrente concentração dos benefícios públicos para uma camada diminuta da população".
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, 273 p.
04/06/21
"Ao deixarmos de lado os paradigmas positivistas e a noção de progresso evolutivo, e encararmos o processo histórico sob a perspectiva do trauma, tomando a categoria originária da psicanálise, temos de rever nossas concepções habituais de representação, memória e narração".
GINZBURG, Jaime. Escritas da tortura. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir. O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010. 350 p., p. 133.
04/06/21
"Quando uma sociedade não consegue elaborar os efeitos de um trauma e opta por tentar apagar a memória do evento traumático, esse simulacro de recalque coletivo tende a produzir repetições sinistras".
KEHL, Maria Rita. Tortura e sintoma social. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir. O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010. 350p. p.126.
29/09/22
"O regime do militarismo ditatorial que no Brasil, como em toda a parte, se apresenta como encarnação da força e da ordem, conduz inevitavelmente ao enfraquecimento nacional e à desorganização social. Faltam-lhe as duas condições indispensáveis à vida normal dos governos, nos povos civilizados: a liberdade para os cidadãos e a sanção popular para os atos do governo. A ditadura encontra por isso em si mesma o seu castigo e a sua destruição. E não há depois talento, não há pureza de intenções que possam salvar um ditador da irrevogável condenação a que o vota a consciência universal. (...)
(...) O governo ditatorial do Brasil está mostrando ao mundo que é hoje impossível governar um país latino sem a liberdade. A ditadura pode conseguir dominar uma nação, mas governá-la, no sentido civilizado da palavra governo - isto é, dirigir a mesma nação, facilitando-se a realização eficaz do seu destino -, é coisa que a ditadura jamais conseguirá".
S., Frederico de. A ditadura no Brasil. In: S., Frederico de (heterônimo de Eduardo Paulo da Silva Prado, 1860-1901). Fastos da ditadura militar no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 39-40.
30/09/22
"A ditadura, quando não se notabiliza pelo crime, distingue-se pela vaidade. [...] Todas estas vaidades e todas estas exagerações pertenceriam somente ao domínio do burlesco se não revelassem um estado político lastimável, um verdadeiro retrocesso na dignidade e no decoro dos costumes políticos. Todo desequilíbrio moral é funesto em suas consequências, embora risível nas suas formas; mas, quando revelado por quem governa, é uma verdadeira calamidade nacional. Nos negócios interiores de uma Nação a vaidade, o capricho, a ignorância e a boêmia são sempre fatais. (...)
(...) E que resultado não é desses elementos aplicados à solução das questões internacionais de que tanto dependem a integridade e a honra dos países"?
S., Frederico de. A ditadura no Brasil. In: S., Frederico de (heterônimo de Eduardo Paulo da Silva Prado, 1860-1901). Fastos da ditadura militar no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 44.
01/10/22
"O regime republicano que depôs uma dinastia vai insensivelmente criando outra. A autoridade está, sob muitos pontos de vista, personificada na família do chefe do Governo... Esta estimável família, mau grado seu, organiza-se em tribo dominadora. O dia do aniversário da esposa do ...ro tomou, nos jornais oficiosos, as proporções de um acontecimento nacional. O sr. ...ro tem muita família, sobretudo muitos ..., a quem se atribuem muitos méritos; estes méritos, porém, nunca foram exaltados pela imprensa, que só lhos descobriu desde que ... reina. (...)
(...) E os ... do poder executivo e absoluto já não podem contar com seus novos e sinceros admiradores. Os jornais publicam os retratos dos ... do ...; todos os dias são oferecidos jantares, almoços, manifestações aos ... do ... Nunca, em tempo de nenhum papa, que por mais desenvolvido tivesse o sentimento da família, foram vistos em Roma mais adulados ... - nepoti santissimi, como lhes chamam os romanos".
S., Frederico de. A ditadura no Brasil. In: S., Frederico de (heterônimo de Eduardo Paulo da Silva Prado, 1860-1901). Fastos da ditadura militar no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 41.
16/03/23
[de Caroline Schroeder para mim]
"A desmemória/ 2.
O medo seca a boca, molha as mãos e mutila. O medo de saber nos condena à ignorância; o medo de fazer nos reduz à impotência. A ditadura militar, medo de escutar, medo de dizer, nos converteu em surdos e mudos. Agora a democracia, que tem medo de recordar, nos adoece de amnésia; mas não se necessita ser Sigmund Freud para saber que não existe tapete que possa ocultar a sujeira da memória".
GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM, 2002, p.61.
30/03/23
"A ditadura brasileira nasceu de um pronunciamento; e a longa experiência de todo este século tem mostrado o que são as finanças dos países de pronunciamentos. Um escritor define o pronunciamento da seguinte forma: ‘O pronunciamento é um movimento militar que, quando bem sucedido, faz avançar de um posto todos os militares que nele tomam parte’. E não faz mais nada de útil".
S., Frederico de. A ditadura no Brasil. In: S., Frederico de (heterônimo de Eduardo Paulo da Silva Prado, 1860-1901). Fastos da ditadura militar no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 61.
31/03/23
"A ditadura militar e republicana importa para o Brasil a desmoralização no interior e o descrédito no estrangeiro. Os fatos apresentados demonstram esta verdade lamentável. A imprensa dos Estados Unidos e a imprensa francesa, exprimindo os sentimentos e as ideias de democracia próprias às duas repúblicas, têm julgado com a maior severidade a ditadura e o militarismo revolucionário no Brasil. Uma revolução do povo pode ser uma coisa nobre e grande; uma revolução exclusivamente militar é, para os países civilizados e livres, uma monstruosidade. (...)
(...) Mais alto, porém, do que a imprensa, fala a opinião insuspeita dos capitalistas. A desconfiança do capital, o retraimento do crédito são as provas mais evidentes da má reputação do militarismo revolucionário".
S., Frederico de. As finanças e a administração da ditadura brasileira. In: S., Frederico de (heterônimo de Eduardo Paulo da Silva Prado, 1860-1901). Fastos da ditadura militar no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 83.
02/06/23
"... no passado, o conformismo nunca trouxe qualquer melhoria para uma situação, somente agravamento... O que é necessário é de se conduzir em qualquer tempo com dignidade, de não se acovardar e se intimidar. O que é necessário é falar a verdade. É possível que a repressão se intensifique em casos individuais. (...)
(...) As pessoas se dão conta novamente de que existem coisas pelas quais vale a pena sofrer, e que sem essas coisas, a arte, a literatura, a cultura, entre outras, são apenas ocupações nas quais nos engajamos para ganhar o nosso pão cotidiano".
JAKOBSON, Roman. Curriculum Vitae de um filósofo checo (posfácio ao "Essais Hérétiques: sur la philosofie de l'Histoire", de Jan Patocka). Revista Phenomenological Studies - XXII(2): 239-241, jul-dez, 2016, p. 240.
26/07/23
“[...] um povo que esquece seus desaparecidos está condenado a um futuro de mais desaparecidos. Eu disse: em outros países isso não aconteceu, como você explica esse esquecimento? Teve esse surto fascista, um gigantesco retrocesso, ele respondeu, de onde você pensa que vieram os fascistas? Não surgiram do nada! Também eles são espectros do passado; são escravocratas de outrora reencarnados em empresários, capitães do mato reencarnados em gerentes de banco, déspotas sanguinários reencarnados em demagogos políticos. Temos que enfrenta-los”!
KUCINSKI, Bernardo. O congresso dos desaparecidos. São Paulo: Alameda, 2023, p. 11.
25/08/23
“25 de Agosto de 1961.
O presidente Jânio Quadros renuncia enquanto o vice-presidente, João Goulart, o Jango, está em viagem diplomática na China. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli, assume a presidência de forma interina”.
50 anos do golpe: a ditadura militar no Brasil. São Paulo: Abril, 2014. p. 9 (Aventuras na História).
28/08/23
“CÂMARA DOS DEPUTADOS
Centro de Documentação e Informação
LEI Nº 6.683, DE 28 DE AGOSTO DE 1979
Concede anistia e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,
Faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e (...)
(...) 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexos com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de Fundações vinculadas ao Poder Público, aos servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares (Vetado). [...]”.
BRASIL. Lei N° 6.683, de 28 de Agosto de 1979. Concede anistia e dá outras providências. Câmara dos Deputados. Centro de Documentação e Informação. Brasília, DF.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-6683-28-agosto-1979-366522-normaatualizada-pl.pdf . Acesso em: 28 ago. 2023.
07/09/23
“A cultura do terror/7
O colonialismo visível te mutila sem disfarce: te proíbe de dizer, te proíbe de fazer, te proíbe de ser. O colonialismo invisível, por sua vez, te convence de que a servidão é um destino, e a impotência, a tua natureza: te convence de que não se pode dizer, não se pode fazer, não se pode ser”.
GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM, 2023, p. 157.
11/09/23
“They say that Allende committed suicide and is dead now.
– Vicealmirante Carvajal:
Gustavo y Augusto, de Patricio. Hay una comunicación, una información de personal de la Escuela de Infantería, que está ya dentro de La Moneda. Por la posibilidad de interferencia, la voy a transmitir en inglés. They say that Allende comitted suicide and is dead now. Eh... Díganme si entienden...
– General Pinochet:
Entendido.
– General Leigh:
Entendido perfectamente. Cambio. (...)
(...)
– General Pinochet:
Habla Augusto.
– Vicealmirante Carvajal:
Respecto al avión para la familia, no tendría urgencia entonces esta medida. Entiendo que no tendría urgencia en salir la familia inmediatamente.
– General Pinochet:
Que se... que lo enchen en un cajón y lo embarquen en un avión, viejo, junto con la familia. Que el entierro lo hagan en outra parte, en Cuba... vamos a tener una pelota para el entierro. Si este gallo hasta para morir tuvo problemas!
– Vicealmirante Carvajal:
Conforme. La información esta... se va a mantener reservada, entonces... (...)
(...)
– General Pinochet:
(interrumpe): Conforme.
– Vicealmirante Carvajal:
se va a mantener reservada.
– General Pinochet:
Vuelvo a dicer, Patricio. El avión, échalo en un cajón, se embala y se manda a enterrar a Cuba. Allá lo van a enterrar.
– Vicealmirante Carvajal:
Gustavo, espero tu conformidad. Tu compresión.
VERDUGO, Patricia. Interferencia secreta: 11 de Septiembre de 1973. Santiago, Chile: Editorial Sudamerica Chilena, 1998, p. 170-171.
12/09/23
“Alfredo Jaar, ‘11 de Septiembre, 1973’, 1974
Me obsesioné con la fecha, con él número 11, era el día que cambió mi vida y la de mi generación, un cambio radical y triste. A partir de ahí, todos los días se transformaron en 11, en esta pesadilla que acababa de empezar y que nadie sabía cuánto iba a durar”.
UNIVERSIDAD DE CHILE. Alfredo Jaar: “El contexto lo es todo y eso ha definido mi trabajo como artista”. Disponível em: https://uchile.cl/noticias/170007/-el-contexto-lo-es-todo-y-eso-ha-definido-mi-trabajo-como-artista.
Acesso em: 11 set. 2023.